Calar-se

Foto: Sönke Städtler

Na presença da fala nós nos calamos. Quando alguém nos fala, precisamos silenciar para ouvi-lo e compreendê-lo. Suas palavras somente nos alcançam enquanto nos calamos, e somente no silêncio podemos entendê-las. E só podemos responder a elas se primeiro tivermos silenciado.

Portanto, só podemos ouvir e falar quando também nos calamos. O silencio não é, absolutamente, algo vazio. Está cheio de palavras que ouvimos e cheio de palavras que diremos.

Também nos calamos, porém, quando nos fechamos ao que alguém nos diz não permitindo que nos perturbe com suas palavras, nos convença, nos imponha algo ou ganhe poder sobre nós. Esse silêncio se torna uma resposta e fala mais alto do que qualquer palavra.

Calar-se é também  oportuno quando nada temos a dizer, quando não sabemos o que responder ou quando o objeto é grande demais para que possamos ou devamos dizer algo sobre ele.

Muitas vezes, falamos por não suportar o silencio – por exemplo, em face da dor, do luto ou da doença grave. Nessas ocasiões tentamos, frequentemente com palavras vazias, consolar o próximo ou dar-lhe falsas esperanças, em vez de simplesmente ficar perto dele em silêncio ou, talvez, apenas apertar sua mão.

Calamo-nos, ainda, diante de algo grandioso, por exemplo, de uma natureza imponente ou de uma obra-prima. E nos calamos, principalmente, diante de deus.

Bert Hellinger em Pensamentos a caminho“, Editora Atman, 2005 (p. 23)

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