Amor Homossexual

Este texto foi inspirado por um questionamento em nossa página no Facebook. Recentemente publicamos um trecho do livro “A fonte não precisa perguntar pelo caminho” de Bert Hellinger (Ed. Atman, 2007) sobre o relacionamento entre o homem e a mulher. No texto, Hellinger afirma que “a base do relacionamento do casal é a diferença entre o homem e a mulher”.

Nos comentários recebemos a pergunta: como isto se aplica ao público LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais)?

Para as Constelações Familiares, todo relacionamento de casal está implicado em um destino. A escolha de parceria faz parte de um conjunto sistêmico que envolve o indivíduo em sua consciência pessoal em interação com o mundo externo, abrangendo simultaneamente as influências sistêmicas das consciências coletivaespiritual.

Toda escolha de relação está ligada a uma rede de relações e nenhuma parceria é aleatória. Com quem você se relaciona e como o faz está ligado a padrões de relacionamento que envolve identificações e “heranças” familiares multigeracionais.

Para Hellinger (HELLINGER, WEBER & BEAUMONT, 2002), as diferenças entre as pessoas e seus sistemas aumentam a durabilidade e estabilidade de um sistema social maior. Na filosofia das Constelações Familiares, “diversidade” e “unidade” fazem parte do todo. A unidade engloba e une o diverso (HELLINGER, 2007). Assim qualquer aspecto que apresente diversidade, seja sexual, cultural, étnica ou qualquer outra, faz parte da unidade global da consciência espiritual, a consciência que abarca todos os seres humanos e a vida. Para HELLINGER (2007), a mais bela imagem de unidade da diversidade está na vivência de casal.

A diversidade sexual humana é um fato que ainda causa curiosidade, questionamentos e até desconforto tanto na sociedade como em contextos acadêmicos e terapêuticos. Nas Constelações Familiares, a diversidade sexual é vista como um destino sistêmico, como outro qualquer.

“Quando um homem homossexual ou uma mulher homossexual reconhecem o seu destino, podem aceitar a homossexualidade com dignidade e assumi-la com dignidade. Mesmo que a reconheçam como um destino difícil. Em verdade, assumindo esse destino, homens e mulheres homossexuais recebem dele uma força especial.” [Bert Hellinger em NEUHAUSER, 2006, p. 272.]

Diferentes áreas das ciências biológicas e sociais estudam a homossexualidade, frequentemente buscando compreender e explicar suas origens. Bert Hellinger afirma que em sua experiência fenomenológica observa a homossexualidade como um destino sistêmico (NEUHAUSER, 2006) e neste sentido, para as Constelações a homossexualidade não se trata de um sintoma ou problema, nem mesmo algo que possa ser “revertido”.

Como destino sistêmico, observam-se algumas dinâmica inconscientes em indivíduos homossexuais. Para Hellinger (NEUHAUSER, 2006 e HELLINGER, WEBER & BEAUMONT, 2002), a primeira dinâmica está na identificação do indivíduo com uma pessoa do sexo oposto ao seu de uma geração anterior.

Neste caso, podemos supor que Hellinger se refira a uma identificação de gênero, para pessoas (homossexuais ou transexuais) que se comportam e mantêm uma identidade de gênero relacionada ao sexo oposto ao seu sexo biológico. Atualmente, se considera a identidade de gênero, sexo biológico e orientação sexual como categorias distintas sobre identidade e sexualidade humana.

A segunda dinâmica oculta sobre a homossexualidade segundo Hellinger (NEUHAUSER, 2006 e HELLINGER, WEBER & BEAUMONT, 2002) tem a ver com a identificação do indivíduo com alguém que foi excluído ou difamado no grupo familiar. Nesta dinâmica o gênero do(s) membro(s) familiar(es) na identificação não importa, mas parece ser significativo seguir um destino tão “marginalizado” quanto o anterior. É importante ressaltar que apesar de um crescente movimento de aceitação e inclusão da homossexualidade na sociedade, ainda se trata de uma condição que gera conflitos de valores e crenças, muitas vezes fazendo com que estes indivíduos vivam sua sexualidade escondida.

Por fim, Hellinger (NEUHAUSER, 2006 e HELLINGER, WEBER & BEAUMONT, 2002) aponta uma terceira dinâmica que considera a mais grave em suas consequências. Quando uma criança, por qualquer razão, não teve acesso a um de seus pais, em especial quando sua mãe exclui o pai. A homossexualidade não é a única possível consequência neste tipo de dinâmica, mas quando se apresenta nesta circunstância, se torna uma forma de ser ou ter o genitor de quem não pode receber afeto. O indivíduo cresce buscando nas relações amorosas adultas a relação de base com o pai ou a mãe.

Podemos dizer que, baseados na visão geral da abordagem, a diferença essencial entre as relações heterossexuais e homossexuais está na possibilidade de concepção de filhos. A vida se faz através da sexualidade entre um homem e uma mulher, que gera um vínculo especial entre o casal.

Entretanto, para qualquer casal com ou sem filhos, a parceria afetuosa e duradoura se faz possível quando ambos estão certos de que o seu desejo está bem resguardado pelo outro, mantendo o equilíbrio entre o “dar” e “tomar” na relação (NEUHAUSER, 2006). Quando o casal permanece junto pelo receio da solidão ou para preencher a sensação de vazio, por exemplo, a parceria sofre e não se sustenta.

Para as Constelações Familiares, os relacionamentos se desenvolvem e se mantém sob as ordens universais das Ordens do Amor. Estas se referem ao vínculo de pertencimento ao sistema, à ordem de chegada ao sistema e ao equilíbrio entre o que se dá para a relação e o que recebe. Estas ordens atuam sobre todas as relações, nos diferentes níveis de consciência (pessoal, coletiva e espiritual).

Em uma entrevista disponibilizada no YouTube em 2008, Hellinger responde sobre o direito ao casamento entre homossexuais como um movimento que está em ordem, em harmonia com a unidade maior. Para Hellinger, as pessoas devem ter o direito de viver sua sexualidade juntos. Quando o direito de um grupo é negado por outro, quem nega afirma “somos melhores” e este movimento gera resistências e conflitos.

Nas Constelações Familiares, toda pessoa integra e pertence em igual valor no funcionamento do sistema total. Todos num sistema familiar são essenciais.

Referências

Carl Peter Strommer. Bert Hellinger decir sobre la homosexualidad en español. Disponível em <http://youtu.be/B8iLnnJzACo>. Acesso em junho de 2014.
HELLINHER, B. A fonte não precisa perguntar pelo caminho: um livro de consulta. Editora Atman. 2ª edição. Patos de Minas, 2007.
HELLINGER, B., WEBER, G. e BEAUMONT, H. A Simetria Oculta do Amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 3ª edição. Editora Cultrix. São Paulo, 2002.
NEUHAUSER, J. (org.) Para que o amor dê certo: o trabalho terapêutico de Bert Hellinger com casais. Editora Cultrix. São Paulo, 2006.

Comments 1

  1. Muito obrigado pelo texto, foi bastante esclarecedor. Tenho estudado através de livros e vídeos no youtube, por meio de “aulas”, palestras, entrevistas; e infelizmente sinto que as vezes a homoafetividade é EXCLUÍDA no discurso de muitos, o que parece ser contraditório. E ainda digo mais, tais discursos por vezes colocam a homossexualidade como demérito e “maldição”; tudo é apenas respondido como “o destino”, mas falta uma melhor clareza desse tema, falta uma melhor incorporação desse tema, falta um lugar em que a homossexualidade tenha honra e respeito ao pé da heterossexualidade, e sobretudo em que o preconceito e o julgamento sejam banidos, entendendo a beleza e a nobreza de cada relação de amor!

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